9.4.21

Retórica do Acto Performativo_Maria Moura

“...o famoso explorador do Ártico descreve como ficou encurralado numa tempestade de neve no Nordeste da Gronelândia. Sozinho, com os mantimentos a desaparecerem, decidiu construir um iglu e aguardar que a tempestade amainasse (...) Freuchen começou a notar que as paredes do seu pequeno abrigo estavam gradualmente a fechar-se sobre si. Devido às condições particulares do tempo no exterior, a sua respiração estava literalmente a congelar as paredes, e cada vez que respirava as paredes tornavam-se cada vez mais espessas e o iglu cada vez mais pequeno, até que por fim quase não havia espaço para o próprio corpo. (...) Pois neste caso é a própria pessoa o agente da sua própria destruição; e até mais:o instrumento dessa destruição é precisamente a coisa de que necessita para se manter vivo. Pois seguramente ninguém consegue viver se não respirar. Mas, ao mesmo tempo, não conseguirá sobreviver se respirar. ” 


Auster, Paul, Trilogia de Nova Iorque, (2018). Leya / RTP, p.293