WORKSHOP 2: RETÓRICA DO ATO PERFORMATIVO
Artista em tele-trabalho
Este pequeno vídeo surgiu a partir da coincidência da palavra tela em português, que no inglês se traduziria como canvas, tela para pintar e, screen, tela digital. Mais do que isto, é uma inquietação sobre o trabalho do artista. Arte é um trabalho? Qual é o suposto trabalho do artista? Porque arte não é, muitas vezes, um trabalho valorizado?
A mensagem se encontra dentro do campo da retórica, que pode ser entendida como uma lente metodológica para perceber o funcionamento das imagens. Há, a princípio, um estranhamento e um conflito a ser resolvido, um “erro desejado”. A pintura torna-se jogo. Igualmente, o jogo da performance se baseia na imaginação de uma realidade outra, se tornando assim, porta de entrada a um mundo fictício e ao ato fingido. No entanto, também existe uma ideia de simultaneidade pelo som das teclas que continua a ser ouvido durante todo o vídeo.
O título do trabalho remete a um termo amplamente falado e discutido neste ano de pandemia, o tele-trabalho; que é altamente recomendado e por vezes, obrigatório. O Lifelike Art de Allan Kaprow se transforma em Lifehouse Artwork mesclando arte, vida, trabalho e casa. Nestas condições, os trabalhadores da arte e cultura foram dos mais afetados. Espetáculos, shows e museus não puderam funcionar e acontecer. Grande parte dos artistas sobrevive trabalhando por temporadas ou por projetos e não são regularizados. O negro que nos remete ao luto e a angústia manifesta a vivência num tempo sombrio, de mortes, desemprego e colapso. Mas a questão aqui elucidada é que a arte também está de luto.
De não em não, Gabriela vira sapo
Fiquei algum tempo refletindo sobre como me autorrepresentar para este exercício e decidi por evocar uma das características que mais desgosto em mim mesma: o costume de engolir sapos. Engolir sapo é uma expressão que significa suportar situações desagradáveis sem respondê-las. Ela se manifesta a partir da minha falta de coragem ou confiança para enfrentar certas situações, comentários ou repreensões ao longo da vida.
A imagem é concebida a partir do tropo projetado, que tem uma afinidade com provérbios e expressões onde “seu sentido depende quase exclusivamente do contexto pragmático da enunciação” (Almeida, 2009, p.41). O desvio acontece quando a banalidade da figura de um sapo ganha significado a partir da perceção que tenho sobre meu comportamento. Nesta acumulação de sapos, acabei por me tornar um deles.