9.4.21

Retórica-do-Ato-Performativo__Catarina Bach


 Workshop 2

"Sou a minha própria sombra"

    Todos nós temos uma sombra. Essa sombra define-nos, faz parte de nós e da nossa essência. De modo literal, ela define o volume do nosso corpo, a sua forma e grandeza. Não é capaz de refletir os pormenores do nosso corpo que facilita o reconhecimento, como acontece no reflexo de um espelho. No fundo, a sombra apresenta apenas a forma do obstáculo que se colocou diante da luz, provocado um espaço ausente dela (da luz). 
   No entanto, partindo para uma interpretação menos literal, buscando a ideologia de Carl Jung que nomeia a "sombra" como um arquétipo importante dentro da psicologia, de acordo com James Hall, no livro "A Experiência Jungiana", define a sombra como “uma parte inconsciente da personalidade caracterizada por traços e atitudes, negativos ou positivos, que o Ego consciente tende a ignorar ou a rejeitar” (p.219). Ou seja, a sombra, para além de, à primeira vista, representar apenas a silhueta do nosso corpo, num sentido mais profundo simboliza ainda um conjunto de elementos que nos caracterizam independentemente da sua posição, negativa ou positiva. É importante acreditar nessa sombra que nos pertence e que está em nós, e aceitá-la. Portanto, a minha proposta de autorrepresentação para este workshop surge com o objetivo de marcar esses meus vestígios, de tornar as sombras em matéria, de acreditar nelas e de as aceitar. Pelo meio do desenho, marco a silhueta do meu corpo ao longo de uma tarde, num pedaço de tecido tingido, resultando num aglomerado de linhas praticamente incompreensíveis. De forma a prender esse desenho ao tecido de forma permanente, bordo. 

Por fim, depois de extraídas e marcadas essas sombras, a função desse tecido bordado tenta encontrar um meio de voltar para o seu corpo inicial. Com isto, passa a ter uma utilidade que antes não possuía: ele veste o corpo e caminha com ele, quase como um ritual que completa essa aceitação.