7.5.21

DESENHO INSTRUÇÃO E PERFORMANCE_juliana_bucaretchi

DESENHO INSTRUÇÃO E PERFORMANCE_juliana_bucaretchi


A instrução de Joana I


Foi me proposto uma espécie de ritual, um encontro com uma arvore do espaço público, um abraço de alguns minutos. 

A instrução era para entrar em contato com a vida existente na arvore, com sua força vital e uma possível troca de energia entre meu corpo e a árvore.


A coincidência é que prático esse ato desde criança justamente com essa intenção. De entrar em uma outra temporalidade daquela que costumamos habitar. Uma experiência de outra dimensão, de se conectar com muito do que passa desapercebido. E nesse ritual, compreender também nossa escala e posição no mundo, que somos parte da natureza também.

No exercício em questão, senti que foi um pouco menos imersivo do que costumo praticar por estar no espaço semi público (o jardim da FBAUP) e ter alguém conduzindo o ritual.







A instrução de Joana II


No segundo exercício foi me proposto receber um relato de algum estranho sobre um dado marcante de sua vida e registrar tal episódio com algum material da minha casa que não fosse propriamente de desenho. O relato era de um abuso doméstico sofrido durante um período longo. A experiência de trocar uma história tão intima com um desconhecido já foi por si uma vivência forte e criou-se aí uma espécie de laço de acolhimento, um vínculo.


Com escolha de materiais, usei verniz de unha, símbolo de um corpo feminino e em sequência utilizei do fogo queimando essa superfície, como metáfora da destruição de um corpo, de uma vida. Foi dos restos, das cinzas que a pessoa em questão conseguiu forças para ressurgir, para sobreviver. Aqui me lembro de Fenix, de uma regeneração após sua morte. então, no papel queimado, nas cinzas dessa destruição que se está também a força de sua sobrevivência.









A minha instrução para Joana I


Como instrução entreguei um recipiente cilíndrico com terra pedindo que retornasse a terra a terra. O suporte redondo e o texto em formato circular criava uma instrução infinita com dois enunciados: retorne a terra a terra e a terra retorne...Se em um sentido era para retornar a terra a terra, em um segundo era um pedido mais vasto de se retornar corporalmente a terra. Ambos tinham como intuito um encontro com o mundo natural, de se relacionar nos pormenores com aquilo que nos desconectamos cada vez mais. Uma tentativa de nos colocar em um outro contexto, em uma outra temporalidade.

Joana, quem por acaso recebeu a instrução, tem uma pesquisa justamente focada na terra. A terra como matéria de trabalho, mas também como matéria de vida, de fusão de corpos. Acredito que para ela que já é familiarizada com a prática talvez tenha sido um gesto sem muitas descobertas, apesar de conter um sentido relacional a suas intenções.


Ambos eram instruções, mas também um convite a uma contemplação, uma experiência subjetiva e muito particular. Coincidentemente abordam a mesma temática e um desejo de imersão em temporalidades distintas. De nos perceber e nos conectar com a natureza, nos entregar a uma relação mais fundida a os elementos naturais, de entender que somos parte desse ciclo. Uma possibilidade de observar a nossa escala e a escala do mundo a partir de outros elementos, além do ser humano.







A minha instrução para Joana II


A minha segunda instrução dada a Joana foi também em um sentido de também nos conectar com aquilo que denominamos por natureza. De perceber o que pode passar desapercebido, dos movimentos imperceptíveis. Um convite, uma instrução a viver um tempo mais lento, e de perceber que está tudo em transformação sempre. De entrar em uma outra dimensão e se conectar com outras corpos. de também poder aquietar o corpo. Para Joana, o interessante foi justamente tentar abdicar daquilo que somos, de nossas concepções. Tentar entender o outro a partir de um exercício de empatia. Mais do que superado minhas expectativas, Joana demostrou uma grande abertura a se transportar para outras dimensões além daquela que estamos acostumados, de se colocar na posição do outro, de escutar e contemplar.