7.5.21

Desenho, Instrução e Performance__Catarina Bach

Workshop 3


Instruções dadas:

"Se estiver sol, apanha o máximo de raios solares que conseguires para dentro de um frasco. No fim, fecha-o bem e guarda-o para dias mais tristes"

"Concentra-te num som, numa música ou num ruído. De olhos fechados, desenha o seu ritmo, o seu tempo, o seu tom."


Esta foi a instrução que selecionei para oferecer ao meu colega. Num primeiro momento, tentei focar-me no sentido do tato e da visão, onde a pessoa em questão precisou de procurar os raios solares, de os sentir, de os ver, sendo que apenas conseguimos percecioná-los através da sua projeção ou reflexo numa superfície, ou através do toque, do calor que sentimos na nossa pele. Neste exercício, exploro a importância da força e da vida do sol. Apenas percebemos e sentimos a sua falta nos dias mais cinzentos de inverno, onde o sol se esconde por de trás de uma camada de nuvens, impedindo que a sua luz mais intensa chegue até nos. Começamos a deseja-lo e a precisa-lo. Aqui, sugere-se uma possibilidade (impossível) de reserva de pequenos raios solares num frasco, para o abrir e recebe-los num dia mais triste e cinzento.

No caso da instrução de desenho, ao contrário da outra, o sentido principal passa a ser a audição, e por meio do desenho representa-se aquilo que se ouve, excluído completamente o sentido da visão. O fundamental nesta experiência está no gesto e na emoção que determinada música, som ou ruído nos proporciona. O resultado final é secundário.


Depois da primeira instrução ser atribuída, a resposta da colega ultrapassou as minha expectativas. Após algumas ideias, surgiram duas interpretações:


Na primeira tentativa, a Ana dirigiu-se a um local no jardim da faculdade onde as árvores que lá estavam impediam a passagem de grande parte da luz do sol, excepto em algumas zonas, criando pequenas entradas de luz ao longo da parede. O espaço em si estava bastante poético, rodeado de uma sombra gigante e manchas de luz que se iam alterando à medida que essas árvores se movimentavam com o vento. Onde há sombra, é mais fácil de conseguir localizar a luz, porque se destaca. Assim, colocou o frasco nessas zonas para cumprir a instrução. De seguida, fechou-o e conseguimos perceber pelo intenso reflexo de luz no frasco, que os raios solares ficaram bem guardados.



A segunda tentativa não foi muito diferente da ideia inicial. Aqui, dirigimo-nos também a uma zona de luz/sombra, onde a entrada de luz sobre a parede de sombra chamou a atenção por remeter justamente a um raio solar, posicionado na diagonal, dirigindo-se de cima para baixo. Na fotografia, podemos perceber que a Ana coloca o frasco nessa entrada de luz. De resto, funcionou tudo da mesma forma que o exercício anterior. 



Instruções recebidas:

 “Escala a tua montanha, torna-te a montanha.”

"Sobe uma montanha e desenha o teu rasto, trilha o teu caminho. Regista ou documenta."


A resposta a esta instrução oferecida pela Ana Mouralinho foi praticamente imediata: representá-la através de sombras projetadas. Isto porque facilmente se iria enquadrar com a temática do meu trabalho pessoal e ainda porque a proposta da instrução me despertou e levou imediatamente para esse lado. 

O meu pensamento a cerca do exercício evoluiu de acordo com uma questão inicial: “Como posso ter e ser uma montanha ao mesmo tempo, sendo que escalo essa minha montanha e me torno nela?”. À medida que ia improvisando e explorando hipóteses, uma sombra projetada de um edifício surge, por acaso, no chão onde passava. Essa sombra rapidamente me remeteu a uma escada. Associei essa “escada” a uma montanha pronta a ser escalada. É a minha montanha, logo, a montanha pode ser e sugerir o que eu quiser. De seguida, dei vida à sombra projetada do meu corpo e ela passou a comandar. Através dela, escalei essa “montanha” também em versão sombra projetada. Deste modo, eu e a montanha tornamo-nos na mesma matéria, em sombra, em ausência de luz. O meu corpo é a montanha, a montanha é o meu corpo.




Em relação à instrução de desenho, a mesma remeteu-me imediatamente a um mapa. Desta forma, investiguei um método de desenho que se assemelhasse ao tracejado de um mapa topográfico, acabando por selecionar a linha costurada pela máquina sobre tecido. Como resultado final, realizei um desenho que, à primeira vista, remete a um conjunto de montanhas, mas na verdade representa um mapa de possíveis caminhos traçados, um possível rasto deixado de um percurso imaginário.