Workshop 3
Instruções dadas:
"Se estiver sol, apanha o máximo de raios solares que conseguires para dentro de um frasco. No fim, fecha-o bem e guarda-o para dias mais tristes"
"Concentra-te num som, numa música ou num ruído. De olhos fechados, desenha o seu ritmo, o seu tempo, o seu tom."
Esta foi a instrução que selecionei para oferecer ao meu colega. Num primeiro momento, tentei focar-me no sentido do tato e da visão, onde a pessoa em questão precisou de procurar os raios solares, de os sentir, de os ver, sendo que apenas conseguimos percecioná-los através da sua projeção ou reflexo numa superfície, ou através do toque, do calor que sentimos na nossa pele. Neste exercício, exploro a importância da força e da vida do sol. Apenas percebemos e sentimos a sua falta nos dias mais cinzentos de inverno, onde o sol se esconde por de trás de uma camada de nuvens, impedindo que a sua luz mais intensa chegue até nos. Começamos a deseja-lo e a precisa-lo. Aqui, sugere-se uma possibilidade (impossível) de reserva de pequenos raios solares num frasco, para o abrir e recebe-los num dia mais triste e cinzento.
No caso da instrução de desenho, ao contrário da outra, o sentido principal passa a ser a audição, e por meio do desenho representa-se aquilo que se ouve, excluído completamente o sentido da visão. O fundamental nesta experiência está no gesto e na emoção que determinada música, som ou ruído nos proporciona. O resultado final é secundário.
Depois da primeira instrução ser atribuída, a resposta da colega ultrapassou as minha expectativas. Após algumas ideias, surgiram duas interpretações:
A segunda tentativa não foi muito diferente da ideia inicial. Aqui, dirigimo-nos também a uma zona de luz/sombra, onde a entrada de luz sobre a parede de sombra chamou a atenção por remeter justamente a um raio solar, posicionado na diagonal, dirigindo-se de cima para baixo. Na fotografia, podemos perceber que a Ana coloca o frasco nessa entrada de luz. De resto, funcionou tudo da mesma forma que o exercício anterior.
Instruções recebidas:
“Escala a tua montanha, torna-te a montanha.”
"Sobe uma montanha e desenha o teu rasto, trilha o teu caminho. Regista ou documenta."
A resposta a esta instrução oferecida pela Ana Mouralinho foi praticamente imediata: representá-la através de sombras projetadas. Isto porque facilmente se iria enquadrar com a temática do meu trabalho pessoal e ainda porque a proposta da instrução me despertou e levou imediatamente para esse lado.
O meu pensamento a cerca do exercício evoluiu de acordo com uma questão inicial: “Como posso ter e ser uma montanha ao mesmo tempo, sendo que escalo essa minha montanha e me torno nela?”. À medida que ia improvisando e explorando hipóteses, uma sombra projetada de um edifício surge, por acaso, no chão onde passava. Essa sombra rapidamente me remeteu a uma escada. Associei essa “escada” a uma montanha pronta a ser escalada. É a minha montanha, logo, a montanha pode ser e sugerir o que eu quiser. De seguida, dei vida à sombra projetada do meu corpo e ela passou a comandar. Através dela, escalei essa “montanha” também em versão sombra projetada. Deste modo, eu e a montanha tornamo-nos na mesma matéria, em sombra, em ausência de luz. O meu corpo é a montanha, a montanha é o meu corpo.