13.5.21

Maria Moura_Desenho, Instrução e Performance


                   Instruções dadas:

    1)

 

TRUST

Abre a porta a 90 graus. Afasta-te em linha reta, até ao fim da sala. De olhos vendados 

caminha de regresso à porta. À medida que te aproximas o medo aparece, mas continua, 

quando a encontrares abraça-a e faz novamente o mesmo exercício.

 

TRUST não é apenas um título, nem tão pouco um verbo e muito menos uma ordem. É um convite “que contem inevitavelmente a possibilidade de um vínculo, de um compromisso.” (Pierre Bourdieu) 

Um desafio com base na confiança, pressupõe-se que o participante, confie no autor, na peça e nas suas próprias capacidade. Trata-se de um ato de entrega. As instruções estão inscritas no objeto que põe em causa o próprio nome da peça. Um lenço branco indica que o espectador terá de abrir a porta a 90º. Com a porta de topo em relação a si próprio, terá de se afastar, neste mesmo eixo, em direção ao fundo do espaço onde se encontra. A partir deste momento, a ideia é vendar os olhos e dirigir-se a esta mesma porta. Porém, o que o espectador vai encontrar é o perfil da porta e não a sua face plana, um objeto ameaçador, apontado a sim mesmo. Em termos conceptuais, uma porta fechada tem uma conotação mais negativa do que a uma porta aberta. Porém, quando temos os olhos vendados uma porta aberta é um obstáculo mais temível. À medida que espectador percorre o espaço em direção à mesma, o receio aumenta, o modo como vai encontrar a porta sai da sua percetibilidade. Quando a encontra, quer por toque, quer por impacto terá de a abraçar, encaixando-a entre cada um dos seus braços. O processo deve ser repetido pelo menos 3 vezes. A repetição aumenta, não só a confiança porque há um maior reconhecimento do espaço onde se encontra, como simultaneamente o grau de impaciência, que poderá por em causa todo o desafio.

A Gabriela repetiu o processo 3 vezes e em todas as vezes começou a partir de sítios diferentes. Procurou diagonais e até mesmo percursos pelos quais tivesse de enfrentar objetos, pelo caminho. Por um lado, significa que não se subjugou à própria experiência. Pelo contrário desafiou-se uma e outra vez, como se de um novo objetivo se tratasse. Por outro lado, a repetição que se pretendia com exercício seria um teste à persistência que aumentaria a confiança num ato de desconforto e de insegurança.  O receio transparecia pelos braços que se moviam em movimentos rápidos e cruzados, independente do ritmo que mantinha. O tempo de chegada à porta foi sendo cada vez menor. Para a Gabriela a finalização do ato não consistiu em abraçar a porta de topo, mas sim passar para o outro lado da porta, como um sentimento de conquista. Instintivamente escolheu a função convencional da porta.

   



    2)             



"O dia tem 24h, a nossa consciência terá perceção de cerca de 16h, sendo o nosso dia organizado em ciclos de 8h: 8h de descanso + 8h de trabalho + 8h de “lazer”. Certamente que há momentos que se destacam e outros que esquecemos. O final do dia resumir-se-á a um suspiro. O desafio é resumir de forma gestual e inconsciente a nossa perceção de cada dia, através de um desenho de 8 segundos." 





        Instruções recebidas:


1)

       







A instrução recebida pela Gabriela vinha numa caixa, com uns auscultadores brancos. Chamou-me a atenção o facto dos três objectos serem brancos, nenhuma tinha mais ou menos importância que outro, anulavam-se entre si, como uma composição monocromática. 


"Dance on a public space while listening to music on earphones." 


Dirigimo-nos para o Jardim de São Lázaro porque embora tenha mais gente que o jardim da escola, sentia-me menos constrangida em dançar em frente a desconhecidos do que no meu ambiente escolar.
O mais constrangedor na concretização da instrução, não foi o acto de dançar foi sim qual a música que iria escolher. A decisão da música condicionaria toda a performance. Segui o meu instinto. Escolhi uma banda que já não ouvia há bastante tempo, mas que sabia que rapidamente me iria tirar os pés do chão, sem muito esforço. Não dancei a música toda porque me pareceu demasiado tempo. Não tive vergonha das pessoas que estavam no jardim, porque nem olhavam para mim, tudo parecia estranhamente natural, o que mais me incomodava enquanto dançada era a câmara que me filmava.


2)