13.5.21

Pedro Lameiras Gil_DESENHO INSTRUÇÃO E PERFORMANCE

Instrução cumprida

A instrução que me calhou foi a da Leonor e consistia numa caixinha de papel com um termómetro e dois exercícios (Apresentados quase como uma caixinha de medicamentos da farmácia.

Imagem 1- Conjunto instrucional da Leonor


 O primeiro, dizia "Usa o termómetro para medires a tua temperatura, colocando-o debaixo do braço. -Anota a temperatura tirada. -Agora, fá-la baixar 1ºC pelo menos". Dada esta primeira instrução, medi a minha temperatura inicial que me deu 36,4 ºC. Para a fazer baixar pelo menos um grau celsius tentei de tudo para baixar não a temperatura do termómetro mas a minha própria temperatura corporal.
Para isso tirei as roupas e respirei mais lenta e profundamente. Com isto, consegui baixar a minha temperatura para os 35,9 ºC. Finalmente, ao molhar o meu sovaco e a minha cara, estando só de t-shirt, consegui baixar 1,1 ºC! Consegui por isso, ir de encontro ao que foi proposto no exercício.

Apesar de já ter conseguido chegar ao objetivo em mente, continuei a tentar perceber se conseguia fazer com que a minha temperatura baixasse ainda mais. Foi para o ar livre, respirar com a boca aberta e sem máscara, apanhei vento no sovaco e molhei mais uma vez o sovaco e a ponta do termómetro.
Nada disto fez com que eu conseguisse baixar ainda mais a temperatura do meu corpo ainda mais.
Presumo que, a reação corporal seja a contrária à pretendida... Para compensar o frio do exterior, o corpo aquece e equilibra esse contraste, pelo menos foi o que me ocorreu após este exercício.

Imagem 2: Anotações das temperaturas ao medir a temperatura do meu corpo depois de uma tentativa de a fazer baixar

O 2º exercício vinha com as seguintes indicações: "Desenha com água, aproximadamente à temperatura corporal, o calor a sair do teu corpo. -Escolhe uma superfície que torne visível o desenho e o faça eventualmente desaparecer."

Acabei por não perceber muito bem o que era pretendido. Não tinha a certeza se o objetivo era desenhar o calor a sair do meu corpo, ou fazer um desenho livre que fosse feito com água a partir do meu corpo e do seu calor.
Não pensei demasiado e recorri então às três fazes de transformação em que a água poderia estar para que o desenho fosse legível: a evaporação, condensação e liquidificação. Através do arrefecimento que uma superfície metálica e/ou de vidro podem oferecer, tirei partido de uma frigideira da loiça que estava a lavar depois do almoço e do espelho da casa de banho depois de um duche.

Ao acabar de lavar a frigideira, sequei-a e pu-la ao sol e com a mão molhada marquei a sua superfície com água, que passado uns minutos evaporou e deixou um rasto, uma marca na sua superfície. Este exercício não foi totalmente de encontro ao pretendido visto que a marca da água permaneceu no metal da certã.



Imagem 3, 4 e 5: A frigideira; a frigideira com a marca de água da palma da minha mão e as marcas da mesma água no metal depois de evaporar.

No caso do espelho de casa de banho, o vidro encontrava-se cheio de vapor de água condensada o que me permitiu utilizá-lo como superfície de desenho, ao desenhar retirando a água condensada que queria para formar imagens.

Imagem 6: Espelho com vapor de água condensado

Imagem 7: A própria câmara estava toda embaciada por causa do vapor contido na casa de banho


Imagem 7: Primeiro fiz um desenho de mim mesmo a desenhar-me no espelho embaciado

Imagem 8: Depois, marquei a palma da minha mão

Imagem 9: Ainda deixei um rasto da minha cara, colocando-a contra o espelho

Imagem 9: E desenhei um stickman a emanar aquilo que supostamente seria calor, do seu corpo

Devido à ambiguidade dos exercícios que me foram propostos, sinto que tomei um pouco de liberdade para interpretá-los à minha maneira, mesmo que não fosse o que era pretendido por parte de quem os criou.


Exercício proposto

As duas instruções que dei à Leonor Ferreira, pretendiam que os 4 blocos de esferovite que dispus (peças que vinham dentro de uma caixa de um aquecedor), fossem alterados consoante a vontade imediata dela. Tudo podia ser feito às peças, porém, no final, ela teria de arranjar uma razão, mesmo que disparatada, do porquê dela ter feito isso...

O resultado que ela criou a partir de uma das peças foi incrível. A Leonor desfez o pedaço de esferovite e fez uns vídeos com os seus destroços...
Fiquei admirado com a maneira como pensou naquela peça como uma "prótese" de algo específico, no caso específico daqueles esferovites: para albergar um aquecedor dentro da sua embalagem.
Ao tê-lo destruído, tornou-o em algo mais dúctil, mais facilmente adaptável por não estar em bloco, mas sim em pequenos pedaços, que se tornaram em elementos feitos à medida do seu próprio corpo, o contrário de uma peça rigorosa e geométrica.

O segundo exercício consistiu em pensar através do desenho esquemático (ou de outro tipo) uma outra função que os pedaços de esferovite poderiam vir a ter, dando liberdade para que eles cumprissem uma outra função possivelmente díspar da original.
Fiquei mais uma vez surpreendido pelo resultado que a Leonor executou. Eu, enquanto autor, projetei o exercício na minha mente, como a realização de um desenho mais concetual e mecânico ou de engenharia que permitisse visualizar os pedaços de esferovite a cumprir uma outra função que não a sua inicial... A Leonor foi para além disso, e, através de um desenho muito sintético e esquemático das formas-base dos pedaços de esferovite, criou um conjunto de composições que davam uso aos ângulos retos das peças e que, encaixadas umas nas outras, formavam um desenho muito orgânico, fluído e textural no seu todo.
Das formas rigorosas facilmente passou para formas libertas!