2.6.22

Desenho como Acto de Presença

 

As artes como um acto de presença

A primeira coisa a que me remeteu o "Desenho como acto de presença" foi para as obras artísticas das pinturas das cavernas, que definem uma temporalidade e a presença dos primórdios da humanidade  com preocupações de pensar a  sua própria existência humana. Então, quando um artista cria, a sua existência está para além da sua temporalidade, pois a obra artística é a extensão de um corpo, de toda uma existência. Achei pertinente trazer o meu processo pictórico e "ensaiar" novos modos de me relacionar com a pintura. Antes de iniciar a pintura houve uma espécie de um ritual, onde o gesto comunica sobre o tipo de ritual que vai ser iniciado. 


Território a que pertenço








Este conjunto de imagens funcionam como  "ausência/presença" daquilo que é o gesto pictórico. Uma espécie de teatro de sombras, uma auto representação através das sombras que estão projectadas no suporte. O meu corpo actua sobre a tela, e através desse acto resulta uma pintura. Serviu-me como inspiração o trabalho da artista Helena Almeida, "Tela habitada", no qual refere que "a minha obra é o meu corpo, o meu corpo é a minha obra". 


   E neste território a que pertenço, usei o meu corpo como um compasso



Neste vídeo pode verificar-se o meu braço perpendicular à tela , num movimento circular, repetido, em diferentes velocidades,  e onde o meu corpo se mantinha fixo, como se estivesse preso ao chão, numa tentativa de criar um círculo o mais próximo de um círculo feito com um compasso. 

"Merleau-Ponty considera que a fala possui as mesmas propriedades que do gesto, tanto que ele a denomina como gesto fonético. "  



Azul índigo sobre tela (1.20 x1.20 m)

Quando falo sobre o meu trabalho pictórico, costumo dizer: a minha pintura vai para além da mão ou do braço, ela envolve todo o meu corpo. Portanto, o meu processo é de alguma maneira uma performance. E foi nessa linha de pensamento que resultou este trabalho performativo. Apropriei-me de um território, a tela, e nela representei-me através das sombras que estão projectadas. Usei o meu corpo como uma ferramenta, uma espécie de compasso. Através de um pigmento orgânico, o azul índigo, misturado com argamassa e cola, inscrevo um círculo.  Aquilo que eu tenho vindo a fazer, em todas as propostas que foram apresentadas é perceber de que maneira eu posso mudar a minha relação/interação com a pintura. Ampliar perspectivas e potencializar essa relação.