ESTE TRABALHO NÃO É MEU!
O desenho como ato de presença, um ato de relação com o outro, com os outros. O corpo social é parte integrante do processo criativo, mesmo em ausência. Os fluxos que percorremos e construímos são perpassados por outros fluxos, outras trajetórias que se desenham a partir de cada presença e de cada ausência. O quanto do meu trabalho, do meu desenho é realmente meu? O quanto do tempo dos outros, das minhas referências, afetam o meu tempo? Nada do que faço parece inteiramente meu. Nada do que faço parece inteiramente eu. Será que toda construção é conjunta? As marcas que delineiam a minha presença impactam e influenciam o delinear de outras marcas que se apresentam nos espaços. As manchas aparentes em meu espaço têm as digitais, os tecidos e os corpos que nele se colocam. Sinto conforto nisso. A cada desenho que desenvolvo a presença do outro é perceptível, fantasmas da inspiração que se materializam pelo ato expressivo de desenhar, um processo mágico em que tudo pode se tornar presente: o passado, o futuro e tudo mais que se possa imaginar e tudo mais que se possa co-criar. Passo a entender que os meus desenhos não são só meus e, claramente, este trabalho também não é meu.
Drawing as an act of presence, an act of relationship with the other, with others. The social body is an integral part of the creative process, even in absence. The flows that we travel and build are permeated by other flows, other trajectories that are drawn from each presence and each absence. How much of my work, of my drawing is really mine? How much of the time of others, of my references, affects my time? Nothing I do feels entirely mine. Nothing I do feels entirely me. Is all construction joint? The brands that delineate my presence impact and influence the delineation of other brands that present themselves in the spaces. The visible stains in my space have the fingerprints, the fabrics and the bodies that are placed in it. I take comfort in that. With each drawing that I develop, the presence of the other is perceptible, ghosts of inspiration that materialize through the expressive act of drawing, a magical process in which everything can become present: the past, the future and everything else that can be imagined and everything else. that you can co-create. I come to understand that my drawings are not just mine and, clearly, this work is not mine either.
