Retórica do Ato Performativo
O trabalho que realizei para o workshop da “Retórica do Ato Performativo” onde nos foi pedido que realizássemos uma situação de autorrepresentação através de um dos meios artísticos disponíveis, decidi que o meu trabalho iria ser à base da imagem fotográfica, pois é um media no qual me sinto confortável em puder trabalhar e também por este ser um meio de produção com o qual me identifico enquanto artista, e para um trabalho onde se tem como intuito a autorrepresentação, fez todo o sentido que o próprio meio de produção fosse assim, também ele uma forma de me autorrepresentar
Inicialmente ao olhar para o enunciado do trabalho surgiram-me algumas questões: Como é que eu me poderia autorrepresentar enquanto individuo? De que forma é que o meu trabalho artístico pode conter desvios? De onde surgem estes desvios? Serão eles intuitivos e automáticos na produção artística?
E ao pensar sobre estas questões e sobre este trabalho, uma das primeiras coisas que me veio à mente quando penso numa autorrepresentação foi uma das situações em que hoje em dia é uma realidade de quase todos, num mundo em que grande parte da população não consegue viver sem a internet, as redes sociais são um elemento importante na vida de uma grande maioria, e talvez uma forma de nós próprios nos darmos a conhecer para o mundo nos tempos que correm, dessa forma achei que este seria o elemento base de todo o meu trabalho, as redes sociais, como modelo de autorrepresentação pessoal.
A imagem fotográfica produzida para o contexto desta disciplina, consiste numa projeção de um perfil social, de umas das redes sociais mais conhecidas por todos, o Instagram, onde o meu próprio perfil é projetado sobre uma parede, e em frente a esta projeção a existência de uma figura, onde o seu rosto está coberto por um tecido branco quase a criar uma figura fantasma projetando a sua sombra sobre o perfil de Instagram, e onde a projeção se sobrepõem sobre o tecido que cobre o rosto anónimo da figura, mas que de certa forma conseguimos perceber que esta é a representante da rede social apresentada.
Inicialmente ao pensar sobre este trabalho, esta ideia surgiu quase como intuitivamente, tentando não racionalizar muito o exercício, e simplificando-o, como havia sido pedido, mas queria também que este pudesse representar-me de alguma maneira, de formas que às vezes eu própria esqueço que sou, e sendo as redes sociais um dos lugares mais importantes para a vida dos jovens, para mim é um lugar onde eu própria por vezes me consigo perder, e criar uma realidade que em alguns momentos acaba por não coincidir com a minha, e ao me aperceber disto ao longo dos anos tenho tentado criar um pouco de distanciamento com esta suposta apresentação irrealista de mim mesma, e tentar ser o mais fiel a mim própria que consiga ser, sendo que este tipo de plataformas serve para mim como um meio de produção artística.
O intuito desta autorrepresentação é quase como uma critica tanto coletiva como pessoal, à forma como atualmente nos damos a apresentar ao mundo, em que grande parte do tempo, nós enquanto seres humanos, damos uma maior importância às redes sociais e às interações realizadas através destas, do que ao contacto físico e pessoal, ficamos absorvidos por detrás de ecrãs e acaba até por existir uma pressão, principalmente na sociedade mais jovem, em que estes meios de comunicação sejam um local de completa perfeição, e que por norma aquilo que é apresentado não é a verdadeira realidade, e deste modo, a figura coberta por um tecido branco é então uma forma de apresentar esta pressão que é posto sobre aquilo que é apresentado nas redes sociais, e nesse processo de tentar polir nas nossas aparências num formato digital, acabamos por perdermos um pouco de nós mesmos, por estarmos completamente imersos nesta realidade, escondendo-nos por detrás de um “véu”, que encobre a nossa verdadeira realidade.
Carolina Lourenço, 2022