Neste terceiro workshop, partiu-se da ideia de pensar o desenho como proto-performance.
Para isso, cada um devia realizar duas instruções, que seriam enviadas à toa para outra pessoa, e consequentemente, receberíamos duas instruções à tua. Uma das instruções deveria ter como resultado um desenho, e a outra, uma ação.
INSTRUÇÃO #1 | COLHER A LUA
A minha primeira instrução, da qual devia resultar um desenho, foi a seguinte:
- Quando foi a última vez que contemplaste a lua?
Após receber este enunciado, comecei a refletir de que modo o poderia realizar, tendo sempre certezas, de que a ação que iria fazer, era exatamente olhar/contemplar a lua. Decidi assim, que em vez de utilizar o tempo máximo do exercício (30 min.) a olhar a lua de uma vez só, e anotar a experiência, iria dividir a tarefa por todos os dias, até ao final do exercício.
Deste modo, de 1 a 13 de dezembro, retirei um minuto do meu dia para admirar a lua. Sendo que a dúvida que logo surgiu, foi como registar este processo. Escolhi então, todos os dias fazer um registo fotográfico da lua, sendo que houve dias em que, devido às condições climatéricas, não a consegui visualizar, mas registei essa "falta no céu", na mesma. Num dos dias, em que não a consegui ver, fotografei um candeeiro de rua, através do qual num primeiro momento é possível este confundir-se com a própria lua, e decidi incorporar esse registo, pelo lado satírico do mesmo.
Como resultado deste registo fotográfico, concebi um caderno, com todas as fotografias, que serve assim, como um género de diário gráfico desta ação diária. Decidi também, manipular digitalmente as fotografias, dado as originais não me agradarem em termos de qualidade, trazendo mais uma camada à imagem final.
A digitalização do diário encontra-se abaixo:
A segunda instrução que recebi, consistia no seguinte:
- Preparar o ambiente. / Escolhe o álbum. / Venda os olhos. / Posiciona-te no papel. / Escolhe uma cor para cada mão. / Desenha o som da música até o álbum acabar.
Para esta instrução, quis tentar pensar numa maneira de dar uma nova interpretação ao enunciado. Pensei em diversos álbuns, que poderia ouvir, mas ocorreu-me que poderia ser interessante encontrar músicas sem som, ou seja, algo que remetesse, por exemplo, à faixa 4'33 de John Cage, algo dentro desse tipo de abordagem performativa. Foi assim, que descobri que uma banda chamada Vulfpeck, havia criado um álbum em 2014, que consistia em 10 faixas, de aproximadamente 30 segundos cada, de puro silêncio. (O álbum pode ser consultado através deste link: https://www.youtube.com/watch?v=kTE2UdbmDw4 )
No entanto, quis também refletir qual a maneira indicada de desenhar o silêncio. Depois de matutar na questão, concluí que iria então desenhar com água. Apesar de deste modo, não ter presente a variação de cor indicada no enunciado, acrescentei uma nova camada de leitura do mesmo, pois tal como o som do álbum se dilui em nada, a própria água deixaria um registo, que acabaria por evaporar e diluir o seu rasto.
Abaixo encontram-se dois registos fotográficos da realização deste exercício:
Preparação do espaço
Resultado final
Através da execução desta instrução, aliando o silêncio, ao registo do mesmo através da água, pude ter uma maior consciência de corpo, som e espaço, possibilitando a exploração dos limites dos mesmos. Ao ouvir este álbum pude registar alguns sons de fundo do ambiente em que me encontrava, nomeadamente: o ruído de carros, o barulho do comboio, algo que me remeteu ao som de uma mangueira de pressão, a minha vizinha a varrer, ou até o próprio vento. Pude também tatear o papel, buscando reproduzir os sons que estava a ouvir através da água e explorar os seus limites. Outro ponto a anotar, foi o tempo de execução do exercício, sendo que o álbum tem pouco mais de 5 minutos de silêncio, estando vendada, não pude ter uma noção correta do seu termino, acabando por ficar embrenhada em explorar os sons que ia ouvindo. Quando retirei a venda, pude constatar que o som já havia acabado, porém não sei quanto tempo estendi este prolongamento da ação, diria não ter chegado aos 10 minutos.
No fim, posso dizer que foi desafiante tentar solucionar uma resposta para estes enunciados, bem como, foi interessante pensar as instruções a enviar, sobretudo pensar o desenho, como principal elemento de instrução, revelando-se um elemento muito rico e vasto de interpretação.
As minhas instruções foram as seguintes:
- Instrução 1 - Desenho Branco