23.1.23

Transferências de uso. André Marques


1

Cabelo à frente, na testa. Verão. O suor escorre sem que o possa controlar a fim de me manter bem. Chegar à testa com os dedos, limpar o suor. Um envolvimento que, da contingência, se torna cuidadoso. Os dedos deslizam.


Agora fazer tudo no papel. Com pigmento, com pincel, com os dedos novamente. Sentir e atentar. Perceber os vários toques, os vários ritmos, os tempos para a transferência. 




                                                                     
                                                              

Perceber também o desenho que segue da natureza do gesto.

 



2.

A segunda performance nasce da simultaneidade de duas ações díspares, a fim de as coordenar. 
Espetar uma agulha numa almofada de costureiro; engolir. 
Calças azuis; almofada vermelha (por coincidência).





O ato surge de uma tentativa, interna e sensorial, de pensar a função do corpo para a sua saciedade imaginada.

Positivo; negativo.

         Dentro; fora.


3


Neste último momento, tenta-se usar um gesto do desenho, transportando-o para o espaço envolvente.

Lembrei-me de pegar numa trincha, pincel apto a deslizar em movimentos retilíneos. A tentativa é a de perceber como o corpo dirige, pela noção de espaço e de movimento que comporta, para o espaço negativo. Permanece o movimento. Desafia o vazio, atuando sobre ele, pelo comando e pela motricidade fina.