23.1.23

PERFORMANCE, DOCUMENTO E DESENHO - Maria Inês Gomes


                Neste quarto workshop, foi-nos proposto pensar o desenho como documento do ato performativo. Tendo como ponto de partida um lugar da faculdade, a proposta consistia em olhar esse lugar como o grau zero de uma ação desviante. Em seguida, devíamos pensar esse espaço em relação à sua funcionalidade e características, e descontextualizá-lo, de modo a desfamiliarizar a relação que mantínhamos com o espaço. Depois, pretendia-se realizar um corpo documental dessa mesma ação, tendo como uma das bases o sistema das transcrições de Bernard Tschumi, usado em Manhattan Transcripts (1994).

                          Para esta proposta decidi descontextualizar o espaço da casa-de-banho do 3º andar do Pavilhão Sul. Quando pensei a função e o contexto deste espaço, tive a ideia de pensar no acontecimento mais disruptivo possível, e foi aí que me lembrei de realizar um funeral. De modo a poder realmente realizar a ação, e não só a documentação da mesma, estabeleci uma correlação entre o canal da água que liga a sanita ao esgoto, com o canal do rio Estige e Aqueronte, que segundo a mitologia grega, dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos. A figura do morto, que representaria o Caronte, foi interpretada por um belo bicho-de-conta, que jazia há uns dias numa teia de aranha perto da entrada da minha casa. Recolhi o sujeito de modo a conceder-lhe um último momento solene neste mundo, até o mesmo seguir para outras paragens. Como caixão, construí um pequeno barquinho de papel, que levaria o nosso amigo até às terras do além. 

                            A performance terminou com o apertar do botão do autoclismo. 

                         Porém, diz-se por aí que o defunto naufragou e ficou a boiar em marés desconhecidas até ao dia seguinte.


Em seguida, apresentam-se alguns quadros da ação performativa realizada:









Em seguida, procedeu-se à documentação de todo o processo da ação, tendo sido estes os resultados obtidos:





De cima para baixo: 1) réplica do barco que transportou o cadáver;

                                2) localização do espaço, com recurso a modelo do barco, acompanhado de folha de alumínio que permitiu a conservação e transporte;

                                 3) documentos diversos: desenhos desenvolvidos a partir do sistema das transcrições de Bernard Tschumi e outros registos à mão livre; planta do espaço; fotografia da ação.