24.1.23

Retórica do Ato Performativo

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 A performance começa comigo e com alguém escolhido da turma. Peço que nos sentemos frente a frente. Sem nenhuma instrução verbalizada, incito a que nos olhemos, pelo silêncio formado e pelo sentido de inação. 

 


Esta disposição entres os dois participantes transporta-nos para a ação de duas

pessoas a conversar. O direcionamento do olhar é essencial ao conversar.

 

Contudo, nesta situação, não estamos a fazer nada a não ser olharmo-nos. Não há fala. Poderia ter verbalizado a intenção deste primeiro momento - a concentração mútua, isotopia deste grau zero; o “conversar-se com o olhar”. A pessoa ficou ligeiramente confusa, perante a inação. 

 

ii

Adiciona-se um novo gesto – o gesto de tirar os óculos da cara, estendê-los à pessoa, e esta os pôr.



Este gesto introduz uma negociação. É um acordo que vem desequilibrar e desorganizar esta experiência satisfatoriamente partilhada.
Pedir para alguém pôr os meus óculos de correção de miopia é comprometer amplamente a sua acuidade visual.



A pessoa passa a ter um elemento que corresponde à minha aparência física. A isto, está subjacente a dor que isso provoca, a pessoa sente-se tonta. 

Há um desvio – a pessoa que põe os óculos sofre, e eu vejo mal sem eles. Há o que permite um contexto de alotopia. Mas como se resolverá esta transposição? Tentarei remediar a falta de visão. Desse modo, terei de me aproximar para corrigir a visão. A outra pessoa deverá acabar a performance, porque não aguenta muito tempo a ver pelos óculos.