Para este projeto, decidi incidir sobre processos de atuação da linguagem, neste caso da linguagem escrita (que se vai escrevendo).
A ideia seria a de que a linguagem fosse transferida da sua função meramente semântica para uma formação enquanto imagem atuada. Há aquilo que Anthony Howell designa por transferência do signo para a ação, em "The Analisys of Performance Art".
O trabalho é composto pelos objetos usados na performance: megafone, cordel, borracha, caneta de feltro, água e letras recortadas em papel, e pelo próprio filme, sem som, projetado.
Sendo o vídeo demasiado grande seguem, ao longo desta publicação, alguns frames.
Quando a linguagem é escrita, ganha uma materialidade, um caráter expositivo a ser despoletado no interior das performances.
Na primeira cena, vemos o performer a pôr um megafone à frente da boca, apto a falar. Como, ao longo do trabalho, se mantém inativo, não falando, a palavra repousa no lugar da imagem, adquirindo uma proposta de atuação - prestamos atenção ao que se forma da alotopia.
Na segunda cena, continua-se uma ação em que uma mão retira um cordel vermelho da boca da mesma pessoa e escreve com ele a expressão “linguagem pelo corpo”. Enlevados pela primeira performance, pela tensão que se cria em não gritar, o cordel materializa, de forma figurativa, uma imagem para a trajetória da voz falada, da boca à propagação no espaço. Essa linha, tendo uma caneta na ponta camuflada, é usada para escrever o texto, transferindo-se a imagem que se dá ao som da voz, para que consigo se possa escrever (atribuindo-se uma configuração expositiva à linguagem): o corpo é ativado; é usado para se pensar no fenómeno de atuação da linguagem.
Passando para o próximo trabalho, escreve-se “esquecer; impasse imaginado”, sobre a “linha da vida”.
As sílabas formam-se, compõe-se e
desarticulam-se. Chega-se a conseguir formar palavras e sentidos (que dialogam, com efeito, com a imagem em sucessão). As imprecisões justificam-se pela forma experimental, na qual o projeto
se densifica.