3.2.23

Ações sobre a linguagem: desenhos atuados (trabalho final)

Para este projeto, decidi incidir sobre processos de atuação da linguagem, neste caso da linguagem escrita (que se vai escrevendo).

A ideia seria a de que a linguagem fosse transferida da sua função meramente semântica para uma formação enquanto imagem atuada. Há aquilo que Anthony Howell designa por transferência do signo para a ação, em "The Analisys of Performance Art".

O trabalho é composto pelos objetos usados na performance: megafone, cordel, borracha, caneta de feltro, água e letras recortadas em papel, e pelo próprio filme, sem som, projetado.

Sendo o vídeo demasiado grande seguem, ao longo desta publicação, alguns frames.




Quando a linguagem é escrita, ganha uma materialidade, um caráter expositivo a ser despoletado no interior das performances.

Na primeira cena, vemos o performer a pôr um megafone à frente da boca, apto a falar. Como, ao longo do trabalho, se mantém inativo, não falando, a palavra repousa no lugar da imagem, adquirindo uma proposta de atuação - prestamos atenção ao que se forma da alotopia.

Na segunda cena, continua-se uma ação em que uma mão retira um cordel vermelho da boca da mesma pessoa e escreve com ele a expressão “linguagem pelo corpo”. Enlevados pela primeira performance, pela tensão que se cria em não gritar, o cordel materializa, de forma figurativa, uma imagem para a trajetória da voz falada, da boca à propagação no espaço. Essa linha, tendo uma caneta na ponta camuflada, é usada para escrever o texto, transferindo-se a imagem que se dá ao som da voz, para que consigo se possa escrever (atribuindo-se uma configuração expositiva à linguagem): o corpo é ativado; é usado para se pensar no fenómeno de atuação da linguagem.


No terceiro exemplo, apaga-se um texto que é posto de trás para a frente, como se a borracha o estivesse a escrever. O texto, que é executado pela vontade de se realizar algo  a ter como que devendo ser destruído, diz “e se um autocarro de dois andares se esbarrar contra nós, morrer a teu lado é uma morte celestial.” (excerto traduzido de uma música dos The Smiths), havendo uma afetação entre forma e conteúdo. 

Passando para o próximo trabalho, escreve-se “esquecer; impasse imaginado”, sobre a “linha da vida”.


Sobre o último vídeo, e fazendo um percurso narrativo entre os mesmos, o corpo já não está presente. Fica a linguagem que se articula e se forma pela própria performance. O jogo é simples e parte de um processo bastante experimental de ver até onde se poderá estender e formar a linguagem, mais propriamente pelo jogo de associações entre letras e sílabas. Para isso introduziram-se letras dentro de uma couvete de água levada ao congelador. As letras ficaram dentro do cubo de gelo. A ação forma-se pelas associações entre as letras, que se criam pelo movimento de derretimento do cubo, exposto ao calor.

As sílabas formam-se, compõe-se e desarticulam-se. Chega-se a conseguir formar palavras e sentidos (que dialogam, com efeito, com a imagem em sucessão). As imprecisões justificam-se pela forma experimental, na qual o projeto se densifica.