2.2.23

absorver, conter, libertar | trabalho final

A presente proposta partiu de uma ideia ainda embrionária que pretendo concretizar em Estúdio de Desenho: paralelamente ao projecto individual, comecei um registo gráfico que evoca partes do processo de trabalho que vai sendo desenvolvido, pretendendo reflectir sobre as noções de “arquivo”, “registo” e “memória” destes processos com diversos rumos - sejam mais sustentados ou efémeros -, que quando revisitados noutras linguagens plásticas, podem conferir diferentes narrativas e lugares imaginários.



Desde já há algum tempo que tenho tido a vontade de revisitar algumas performances que materializei, pelo que pareceu-me o momento ideal para desenvolver uma reflexão recorrendo somente a uma abordagem gráfica: tendo perdido alguns registos fotográficos destas performances, até onde poderei reinterpretá-las apenas pelo Desenho (ou pontualmente Escrita)? Como conseguirei manter alguma qualidade artística para além da documental? Serão estes registos considerados tão válidos como uma fotografia?



    Durante a apresentação, revelei que apenas uma das performances documentadas aconteceu na realidade (desenho à esquerda na mesa). Toda a análise feita previamente foi puramente especulada, tal como a natureza dos desenhos.




Neste sentido, a proposta real deste projecto prende-se com as noções da performatividade que o documento pode evocar. Tradicionalmente associado a convenções textuais e científicas de registo e arquivo, pretendo reflectir sobre as potencialidades do documento como veículo performativo e investigar até onde posso explorar os limites do evento especulado. 


    «Tentar escrever sobre o evento indocumentável da performance é invocar as regras do documento escrito e, logo, alterar o evento em si mesmo». (Phelan, 175). Se é verdade que todo o registo documental de um acto performativo - seja vídeo, fotografia, desenho, narração ou escrita - representa uma alteração ao evento original e experienciado, onde se colocam os ensaios especulativos apresentados neste projecto? Ressalvo que este projecto não pretende de todo menosprezar a importância da presença do corpo físico na performance. Contudo será pertinente referir a “categoria teatral” (tradução literal) do documento performativo proposto por Philip Auslander. Ainda segundo Auslander, não haverá propriamente diferença na documentação entre uma performance que existiu e outra puramente fingida, ou encenada. Certamente que divergem na sua natureza e intenção, porém serão igualmente válidas.


Voltando aos desenhos desenvolvidos para este projecto, atrevo-me a considerar que não dependem necessariamente da confirmação do espectador sobre a sua veracidade. O lugar da especulação também existe nas práticas artísticas contemporâneas, e constituindo-se o documento como um novo formato para a performance tal poderá permitir uma maior liberdade para novas potencialidades e relações entre a obra e o espectador.