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«Performativo» é um termo cada vez mais utilizado em diversas áreas do pensamento e da atividade humana. Esta hegemonia resulta em parte da amplitude do termo, marcado por contradições internas: o que ele significa na filosofia da linguagem ou na gíria empresarial é radicalmente diferente do seu uso no contexto artístico. Se, num dos extremos, é marcado pelo signo da eficiência e da produtividade, no outro é marcado pelo uso retórico da ação, experiência direta e processo. Este interesse exponencial pelo «performativo» como conceito globalizado tem tido efeitos perversos. O mais visível é a tendência para uniformizar tudo sob a mesma categoria, sem reconhecer que as contradições do termo são o que melhor o caracteriza, perdendo com isso a especificidade que ele assume quando se manifesta em domínios situados à margem da organização empresarial, dos modelos do espetáculo cultural ou da eficiência tecnológica.
Mas este interesse criou também novos ângulos de visão sobre aquilo que - não sendo performance no sentido ontológico do termo - é frequentemente apreendido como um ato performativo. Com efeito, a emergência do «performativo»  na arte contemporânea revela uma dimensão que é intrínseca ao próprio desenho, como processo e imagem percebida como projeção de um corpo que atua.

Estes seminários pretendem ser um espaço de reflexão e exploração de metodologias baseadas em processos performativos nas práticas do desenho contemporâneo. Essa relação é aqui abordada em dois sentidos:
Um é pragmático, e refere-se às situações em que o desenho é uma extensão de contextos performativos, enquanto meio, instrumento e ação direta.
O outro é retórico, e enquadra os casos em que o desenho significa em ato, ou significa como ato.

O programa estrutura-se em diversos módulos onde estes dois sentidos se relacionam:
1. Performance, performativo e performatividade.
2. Transferência de ações entre campos performativos: o desenho como meio, instrumento e linguagem de ação direta (seminário e oficina).
3. Retórica do ato performativo.: processos desviantes e práticas impertinentes (seminário e oficina).
4. Transferência da imagem para o ato: o desenho como instrução e protocolo (seminário e oficina).
5. Transferência do ato para a imagem: o desenho como documento e testemunho (seminário e oficina).
6. Aspetos biológicos e semióticos dos gestos e do movimento do corpo. Perceção da ação e contágio motor (seminário).
7. Jogos fictícios com o tempo (seminário).
8. O desenho como ato de presença: estar aí (seminário e oficina)
9. Desenvolvimentos experimentais.