Força Bruta
Caroline Silva Cruz
Com base em experimentos prévios sobre o uso do
desenho como ferramenta para o mapeamento e criação de espaços, realizado
durante a disciplina de Projeto de Atelier do curso de Mestrado em Desenho e
Técnicas de Impressão, o projecto Força Bruta tem como principal ponto de
estudo a transferência da energia produtiva para a superfície de trabalho, ou
seja, como o gesto realizado na criação do desenho (ou representação abstrata
espacial) pode estar presente na obra e ser elemento representativo da parte
essencial de qualquer processo de produção, a energia.
Apoiando-se em conceitos
previamente estudados em outras disciplinas, como a tradução do “Espaço
Absoluto” para o “Espaço Abstracto” a partir de ferramentas pré-estabelecidas
pela matemática e o chamado “Espaço Euclideano” de Henri Lefebrve, o principal
objetivo explorado pelo projecto foi a experimentação em cima dos parâmetros
que compõem um processo produtivo. A utilização de elementos como um molde
(neste caso o carimbo construído a partir de rolhas e placas de cortiça),
superfície de trabalho (papel), matéria-prima (tinta) e movimentos sistemáticos,
representa elementos básicos para a constituição de uma “produção industrial” e
a presença de interferências como falhas de energia (cansaço), falhas de
registro, degradação das ferramentas e superfície de trabalho (rasgos
apresentados como resultado do gesto) nos ajuda a perceber que estas também
estão presentes em cada processo produtivo.
No caso da produção espacial,
podemos observar a presença destes parâmetros na criação de interpretações do
espaço traduzidas em representações abstratas (ou desenhos) e como a mudança de
qualquer elemento, seja quem desenha, como desenha ou o que desenha, influencia
na estética e funcionalidade resultante. Porém, além desta condição existente,
no mapeamento e produção de espaços, outra comparação pode ser feita com a
gesto de “Força Bruta” que é a base da experimentação apresentada. A “Força
Bruta” que, através de movimentos sistemáticos transferindo energia para a
superfície trabalhada ao longo de um período tempo, rompe com o formato inicial
e cria uma nova forma onde antes não existia. Ou, pelo contrário, desgasta esta
superfície e transforma a sua estética “original”. A “força da natureza” e o
seu processo de produção espacial.
Entre todos os processos de
produção espacial natural que podemos observar a nossa volta, podemos tomar
como principal ponto comparativo a Erosão e o caráter “destrutivo” da aplicação
repetida e incessante de força naturais (como o vento ou o mar) como ferramenta
de transformação de uma superfície. Transformação que vai muito além da
destruição de um estado atual, mas que revela o que antes era invisível ou cria
o que antes não existia.
A partir deste estudo de como a
transferência de uma força, natural ou não, a partir de pré-definições e sob a
influência de parâmetros que não podem ser controlados ou contornados, podemos
perceber que o processo produtivo se comporta de maneira semelhante seja ele
aplicado a diferentes contextos. Tanto na produção industrial e seus projetos e
protocolos como na manifestação da natureza, a energia permanece como fonte e
as “falhas” permanecem como parte do processo.
Caroline
Cruz, 8Pits, 8x8cm, (tinta acrílica sobre papel creme colado em papel
preto), 2017.
Caroline Cruz, Força Bruta, 42x59cm (tinta
acrílica sobre papel creme), 2017.
Caroline
Cruz, Crater #1 & #2, 42x59cm (tinta acrílica sobre papel creme), 2017
Caroline
Cruz, Crater #3, #4, #5, 42x30cm (tinta acrílica sobre papel creme), 2017