5.2.17

Força Bruta

Força Bruta
Caroline Silva Cruz

Com base em experimentos prévios sobre o uso do desenho como ferramenta para o mapeamento e criação de espaços, realizado durante a disciplina de Projeto de Atelier do curso de Mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão, o projecto Força Bruta tem como principal ponto de estudo a transferência da energia produtiva para a superfície de trabalho, ou seja, como o gesto realizado na criação do desenho (ou representação abstrata espacial) pode estar presente na obra e ser elemento representativo da parte essencial de qualquer processo de produção, a energia.
Apoiando-se em conceitos previamente estudados em outras disciplinas, como a tradução do “Espaço Absoluto” para o “Espaço Abstracto” a partir de ferramentas pré-estabelecidas pela matemática e o chamado “Espaço Euclideano” de Henri Lefebrve, o principal objetivo explorado pelo projecto foi a experimentação em cima dos parâmetros que compõem um processo produtivo. A utilização de elementos como um molde (neste caso o carimbo construído a partir de rolhas e placas de cortiça), superfície de trabalho (papel), matéria-prima (tinta) e movimentos sistemáticos, representa elementos básicos para a constituição de uma “produção industrial” e a presença de interferências como falhas de energia (cansaço), falhas de registro, degradação das ferramentas e superfície de trabalho (rasgos apresentados como resultado do gesto) nos ajuda a perceber que estas também estão presentes em cada processo produtivo.
No caso da produção espacial, podemos observar a presença destes parâmetros na criação de interpretações do espaço traduzidas em representações abstratas (ou desenhos) e como a mudança de qualquer elemento, seja quem desenha, como desenha ou o que desenha, influencia na estética e funcionalidade resultante. Porém, além desta condição existente, no mapeamento e produção de espaços, outra comparação pode ser feita com a gesto de “Força Bruta” que é a base da experimentação apresentada. A “Força Bruta” que, através de movimentos sistemáticos transferindo energia para a superfície trabalhada ao longo de um período tempo, rompe com o formato inicial e cria uma nova forma onde antes não existia. Ou, pelo contrário, desgasta esta superfície e transforma a sua estética “original”. A “força da natureza” e o seu processo de produção espacial.
Entre todos os processos de produção espacial natural que podemos observar a nossa volta, podemos tomar como principal ponto comparativo a Erosão e o caráter “destrutivo” da aplicação repetida e incessante de força naturais (como o vento ou o mar) como ferramenta de transformação de uma superfície. Transformação que vai muito além da destruição de um estado atual, mas que revela o que antes era invisível ou cria o que antes não existia.
A partir deste estudo de como a transferência de uma força, natural ou não, a partir de pré-definições e sob a influência de parâmetros que não podem ser controlados ou contornados, podemos perceber que o processo produtivo se comporta de maneira semelhante seja ele aplicado a diferentes contextos. Tanto na produção industrial e seus projetos e protocolos como na manifestação da natureza, a energia permanece como fonte e as “falhas” permanecem como parte do processo.



Link para vídeo: Força Bruta - https://youtu.be/PcWLCgGE44s


Caroline Cruz, 8Pits, 8x8cm, (tinta acrílica sobre papel creme colado em papel preto), 2017.


Caroline Cruz, Força Bruta, 42x59cm (tinta acrílica sobre papel creme), 2017.


Caroline Cruz, Crater #1 & #2, 42x59cm (tinta acrílica sobre papel creme), 2017



Caroline Cruz, Crater #3, #4, #5, 42x30cm (tinta acrílica sobre papel creme), 2017