Instrução - Ação
Pensei a instrução partindo do ato de escrever como desenho, performance e escrita (poema Dada). Sobre um pequeno bloco de papel de 160 folhas, acompanhado de um marcador de ponta recta, entreguei a instrução com o objetivo de que quem a executasse, pensasse e explorasse a versatilidade desde o dispositivo às suas aplicações, estimulando também a escrita criativa.
O ato de escrever já é em si desenhar. Cada letra, cada palavra, um traço, um desenho, uma composição sobre uma folha... ou muitas. A performatividade começa na repetição de uma ação ou num simples esvoaçar de uma folha, como se um dizer caísse de algum lado como uma gota cai do céu. E é neste pensamento que a instrução surge:
Como seria se chovessem palavras? O que é que elas diriam?
Quando uma folha cai, a probabilidade do verso escrito e do verso branco de uma folha ficarem voltadas para cima é de 50 - 50. Partindo dos versos de um poema, palavra por palavra, folha a folha, a resposta viria ao de cima.
Faz chover palavras
e descobre
porque chora o céu
Ana Mota
A resposta a esta instrução acabou por ser o que esperava pois no momento em que a forneci, a troca de ideias acabou por me levar a descodificar o meu pensamento, influenciando quem a executaria, sabotando, assim, o objetivo do exercício (imprevisibilidade e surpresa da resposta por parte de quem a executa).
Executado por Sara Gonçalves no Pavilhão Sul da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Instrução - Desenho
Esta instrução inspira-se na poesia de José Tolentino Mendoça. Partindo de uma estrofe da Escola do Silêncio, pretendia que se realizasse um conjunto de desenhos, por tempo indeterminado, a paisagem de algo que não é visível, tornando o próprio exercício poético. Os dois sentidos nele implícitos (visão e audição, sendo que a visão remete para uma paisagem e a audição para o silêncio), entrariam em conflito tornando o exercício imprevisível pela sua utopia.
No silêncio da tarde
marulham palmeiras
numa praia invisível
José Tolentino Mendonça
Desenha, sobre uma janela,
A paisagem do silêncio.
Repete todos os dias.
Ana Mota
Desenha, sobre uma janela,
A paisagem do silêncio.
Repete todos os dias.
Ana Mota
Executado por Sara Gonçalves