Dive
No dia 20 de maio por volta das três da tarde uma figura
abre a porta do segundo andar do pavilhão de escultura, apelidada habitualmente como a Porta de Suicídio. Esta porta com vista para o jardim da faculdade, com restrito acesso, sem aparente função e com uma localização um
tanto ou quanto ilógica é o local onde o ato se desenrola, o grau zero de uma
ação desviante. Em frente a essa porta encontra-se uma prancha e lá em baixo,
no rés do chão uma pequena piscina de brincar com água. A figura procede em saltar e dar um mergulho
da prancha para a suposta piscina. Encontramos aqui o absurdo, o ilógico e o
surreal. O espaço, visto geralmente como um lugar de passagem ou de convívio sofre
uma reinvenção/manipulação através da transferência de uma ação associada à
prática da natação, o mergulho. A piscina é muito pequena para um salto do
segundo andar. Será que a ação se desenrolou? Quem teve acesso à mesma? O que aconteceu com a figura? Qual
a sua finalidade?
A ação não foi anunciada ao público e não existe registo
fotográfico ou de vídeo da mesma. Os desenhos apresentados funcionam não só
como desenhos protocolares onde a ação foi idealizada, pensada e prevista como
também de desenhos de documentação, de testemunho, que pretendem registar e
documentar a mesma. Tratam-se de rumores, de vestígios de um tempo passado e
supostamente testemunhado onde a ficção e a narrativa são colocadas em diálogo entre
os vários desenhos, evidenciando as possibilidades performativas que os mesmos
podem incorporar. Estes desenhos, misturam-se entre o protocolar e o documental,
criando o mito e a reformulação do real, o seu objetivo é de “instigar o máximo
de fantasia possível”, o rumor calculado (Kaprow, 1966, pág.62). São o meio de
leitura e de memória que permitem a validação e tradução do ato como refere
Auslander: "The space of the document (...) thus becomes the only space in
which the performance occurs." (2006, pág. 3).