21.5.19

Performance, Documento e Desenho


Dive

No dia 20 de maio por volta das três da tarde uma figura abre a porta do segundo andar do pavilhão de escultura, apelidada habitualmente como a Porta de Suicídio. Esta porta com vista para o jardim da faculdade, com restrito acesso, sem aparente função e com uma localização um tanto ou quanto ilógica é o local onde o ato se desenrola, o grau zero de uma ação desviante. Em frente a essa porta encontra-se uma prancha e lá em baixo, no rés do chão uma pequena piscina de brincar com água.  A figura procede em saltar e dar um mergulho da prancha para a suposta piscina. Encontramos aqui o absurdo, o ilógico e o surreal. O espaço, visto geralmente como um lugar de passagem ou de convívio sofre uma reinvenção/manipulação através da transferência de uma ação associada à prática da natação, o mergulho. A piscina é muito pequena para um salto do segundo andar. Será que a ação se desenrolou? Quem teve acesso à mesma? O que aconteceu com a figura? Qual a sua finalidade? 
A ação não foi anunciada ao público e não existe registo fotográfico ou de vídeo da mesma. Os desenhos apresentados funcionam não só como desenhos protocolares onde a ação foi idealizada, pensada e prevista como também de desenhos de documentação, de testemunho, que pretendem registar e documentar a mesma. Tratam-se de rumores, de vestígios de um tempo passado e supostamente testemunhado onde a ficção e a narrativa são colocadas em diálogo entre os vários desenhos, evidenciando as possibilidades performativas que os mesmos podem incorporar. Estes desenhos, misturam-se entre o protocolar e o documental, criando o mito e a reformulação do real, o seu objetivo é de “instigar o máximo de fantasia possível”, o rumor calculado (Kaprow, 1966, pág.62). São o meio de leitura e de memória que permitem a validação e tradução do ato como refere Auslander: "The space of the document (...) thus becomes the only space in which the performance occurs." (2006, pág. 3).