Workshop 5 - Desenho como ato de presença - Joana Carvalho
Para o quinto e último workshop de Desenho e Performatividade, foi-nos proposto que realizássemos exercícios que implicassem, se possível, questionamentos como:
De que forma a presença do corpo que desenha acrescenta ou modifica o sentido ao que é desenhado? Como podemos usar o desenho para interagir no espaço do outro? Como relacionar o tempo do desenho com o tempo do espectador?
Para tal, realizei dois exercícios. O primeiro era algo que queria fazer há algum tempo. Consiste em colocar pessoas, a pares, frente a frente. Olham-se nos olhos durante um minuto. De seguida desenham o que quiserem, o que sentirem. Neste caso adaptei o exercício para que estivessem a desenhar enquanto mantinham o contacto ocular com o outro. A base desta ação está no facto de as duas pessoas que se olham, se implicarem nos desenhos que estão a ser feitos. O que está a ser desenhado depende das impressões obtidas a partir desse contacto ocular. Dependem então da presença das duas pessoas, que simultâneamente olham e são olhadas.
No segundo exercício coloquei uma folha de papel no chão, pedi a todos os presentes na aula que olhassem para mim enquanto desenhava, durante 3 minutos. A intenção foi, durante esse tempo, observar o que estava a sentir e tentar que o desenho, os gestos, as escolhas das cores, correspondessem à tradução do que observava nesse tempo. O processo foi, no entanto, bastante livre e intuitivo. O facto de estarem várias pessoas a ver-me enquanto o fazia, conduziu a experiência. A presença de outros no espaço em redor, não só dificulta a tarefa de auto-observação, como afeta as sensações que tenho, e que observo em mim.
Não me senti intimidada como esperava, mas reparei que, durante a ação, durante o desenho, o discurso mental que estava a ter era de proteção. Considero que o exercício foi bem sucedido, pois esse discurso mental, assim como tudo o que aconteceu durante a ação, não foi premeditado, foi o registo daquele momento, ainda que interior (mas implicado pelo exterior), daquele presente.
Ambos os exercícios foram feitos na horizontal, com o papel colocado no chão, como já tem sido habitual no meu trabalho recente.