Samuel Ornelas
A Cordilheira Azul
Ensaio fotográfico, 2016
Este é o jogo das amplitudes em que
me aventuro, descubro nos pequenos objetos uma vastidão de significados. A visão
é um sentido especial e trapaceiro. Pode-se facilmente por aproximação ou
distanciamento figurar opostos. A imagem contradiz. Fiz de um amontoado de
pedras uma miragem. As imagens deste ensaio fotográfico aparentam valer reais
quanto a seu tamanho, lugar, existência: uma cordilheira azul (ela cabe em
minhas mãos). Pedras descartadas, pedra pintada, pedra descascada, o tempo
agindo, transformando. A dança dos ventos, as ranhuras das chuvas, os registros
do mundo em constante movimento. Corpo com corpo, o toque necessário à
continuidade, ao equilíbrio das situações sempre voluntárias, não perceptíveis.
Muitas vezes, o desejo que achega. Minhas pequenas e simples descobertas
transformadas em desenhos, as aparições por conexões das sensibilidades inexplicáveis.
Meu corpo é uma galáxia, minha casa é um mistério. Dar forma a memória, aos
conteúdos, as minhas paixões e meus sonhos. Esse conjunto de pedras, talvez,
sejam: o que não posso alcançar, o que não posso desenhar, o que ultrapassa a
minha capacidade - a grandiosidade de uma Cordilheira. Não posso tê-la!
Em contemplação, infinitos
descobrimentos, infinitos desdobramentos, filtrar e abstrair. Envolver-se com a
matéria, prova-me relevante. Continuo na carência de certezas. As experiências
pessoais minhas, suas, formam a História? Quem se importa com a história do
outro? Não são nessas aproximações íntimas que juntos crescemos?