3.2.17

A Cordilheira Azul - O jogo das amplitudes


Samuel Ornelas
A Cordilheira Azul
Ensaio fotográfico, 2016 




















Este é o jogo das amplitudes em que me aventuro, descubro nos pequenos objetos uma vastidão de significados. A visão é um sentido especial e trapaceiro. Pode-se facilmente por aproximação ou distanciamento figurar opostos. A imagem contradiz. Fiz de um amontoado de pedras uma miragem. As imagens deste ensaio fotográfico aparentam valer reais quanto a seu tamanho, lugar, existência: uma cordilheira azul (ela cabe em minhas mãos). Pedras descartadas, pedra pintada, pedra descascada, o tempo agindo, transformando. A dança dos ventos, as ranhuras das chuvas, os registros do mundo em constante movimento. Corpo com corpo, o toque necessário à continuidade, ao equilíbrio das situações sempre voluntárias, não perceptíveis. Muitas vezes, o desejo que achega. Minhas pequenas e simples descobertas transformadas em desenhos, as aparições por conexões das sensibilidades inexplicáveis. Meu corpo é uma galáxia, minha casa é um mistério. Dar forma a memória, aos conteúdos, as minhas paixões e meus sonhos. Esse conjunto de pedras, talvez, sejam: o que não posso alcançar, o que não posso desenhar, o que ultrapassa a minha capacidade - a grandiosidade de uma Cordilheira. Não posso tê-la!

Em contemplação, infinitos descobrimentos, infinitos desdobramentos, filtrar e abstrair. Envolver-se com a matéria, prova-me relevante. Continuo na carência de certezas. As experiências pessoais minhas, suas, formam a História? Quem se importa com a história do outro? Não são nessas aproximações íntimas que juntos crescemos?