A transferência-de-uso explorada
nos seguintes ensaios estabelece uma relação proto-performativa com a ação, na
medida em que os verbos designam os atos que o corpo executa sobre si mesmo e
representam uma espécie de instrução.
1- Escovar
es·co·var
Limpar com escova
A exploração da transferência-de-uso a partir da reinterpretação do ato de escovar os dentes, debruçando-me atentamente sobre uma folha A3+ e escovando-a com movimentos curtos e rápidos por um período aproximado de 20 minutos. Através da extensão da sua duração, o ato é levado à incoerência, a fricção da escova húmida sobre a folha desgasta-a, tornando-a cada vez mais fina e frágil. Começam a aparecer os primeiros buracos complementados por aglomerados de papel, habituo-me ao cheiro a mentol e o cansaço do meu polegar começa a tornar-se evidente. Mudo a escova para a outra mão, o ato torna-se estranho e descontrolado, e apercebo-me que não sei lavar os dentes com a mão esquerda.
2- Cortar
cor·tar
Separar ou dividir por meio de instrumento cortante
Neste ensaio, transportei o ato de cortar as unhas para o ato de cortar a relva. Através da transposição do ato e da alteração do instrumento, apercebo-me da importância da relação de ambos os objetos com o corpo, e a diferença de esforço despendido na função que desempenham.
3- Medir
me·dir
Determinar a extensão ou a quantidade
Servindo-me de um lápis normalmente usado para olhar, medir e pensar o desenho, redirecionei o ato de medir contornando o perímetro da minha casa e desenhando uma planta onde o lápis se torna a unidade de medida.