DESENHO, INSTRUÇÃO E PERFORMANCE
Instrução para o desenho
"Recolhe
folhas de papel de qualquer dimensão.
Escolhe
o riscador que mais quiseres.
Desenha
o que quiseres desenhar.
Termina
o desenho.
Observa
o que desenhaste.
Exalta-te
com o que fizeste.
Deita
o desenho ao lixo ou oferece-o a um desconhecido."
Instrução para a acção
"Escolhe
uma parede (sem objectos) só para ti.
Encosta-te
a ela (num dos seus extremos) com uma só bochecha e sente-lhe o frio.
Agora,
espalma-te nela por inteiro e acompanha-a com o teu corpo até seres um plano.
Sem
exercer força, molda-te nela.
Desliza-te
lentamente sobre a parede, enquanto conservas a forma que adquiriste.
Desliza-te
nela até ao seu fim, nessa e dessa forma.
Não
deixes de ser um plano."
Acção do João Ferreira
Instrução para o desenho
Instrução do João Ferreira
"Encontrar um meio visual que represente o padrão - formular/ilustrar os dados (arquivar; ordenar; guardar)"
(Instrução para o desenho relativa à acção de
"Observar uma situação. Criar um padrão numa sucessão de acontecimentos.
Como quem passa por ti;
Quem fala para ti;
O que pedem de ti;
O que te rodeia;
O caminho que as pessoas percorrem;
As atitudes que apropriam.
Encontrar no performativo a rotina, o acontecimento e o instintivo/provocado.")
Desenho-registo da acção-registo
As
instruções que segui do João Ferreira encontram-se inter-conectadas, uma vez
que o registo de acontecimentos que sucede a instrução para a acção (que se
assume no próprio acto de registar) dá lugar a uma série de desenhos realizados
num suporte próprio desse acto de registar – o diário gráfico.
A
instrução para a acção a realizar no espaço da faculdade, pelo acto
relativamente familiar e recorrente a que se refere (como listar, apontar,
enumerar), não pressupõe uma forma de actuação específica, como um corpo que se
repensa antes de agir. A instrução não prevê a encenação de um acto no sentido
de corpo-actuante, porque o seu único requisito é o próprio acto de registar e,
assim sendo, procurei adoptar formas de actuação-registo no sentido de obter,
estrategicamente, os elementos que foram pensados em desenho.
Os
desenhos obtidos resultam de um enunciado de observações e contaminações
elementares, que surgiram aquando da experiência no lugar escolhido.
Na
instrução para a acção proposta ao João, procurei possibilitar uma constatação
de uma impossibilidade física, não no sentido de lhe proporcionar contrariedade
ou insatisfação, e sim uma percepção do corpo no espaço. Em relação ao desenho
que propus, procurei que a preocupação (do desenho) se digirisse mais ao que
acontece depois do acto de desenhar, do que ao objecto-desenho.