16.4.18

WORKSHOP 3: DESENHO, INSTRUÇÃO E PERFORMANCE

I

Instrução: Ana Clara Mota
Realização: Sara Gonçalves


Recebi as instruções no formato de um pequeno livro que se foi esgotando ao longo do exercício. O que era um livro, são agora duas folhas de papel com um agrafo.

“DESENHA SOBRE UMA JANELA
 A PAISAGEM DO SILÊNCIO
 REPETE TODOS OS DIAS”

“Repete todos os dias”, um compromisso que pode mostrar-se assustador. O ato de “repetir” apresentou-se quase como impedimento para a realização da instrução, e a recusa revelou-se  como uma possível hipótese de concretização da própria ação.  
Nessa medida, procurei não desenvolver uma ação específica na base da instrução, mas uma forma de entender as mensagens inerentes à ambiguidade das palavras. Pensar na forma como interpretamos o que lemos, e de que maneira é que isso interfere nas nossas ações.

“The first claim made o nus by any instruction is to decide how literally we should follow its terms – with the imaginary extremes being protocol, on the one hand, to be followed to the letter, and pure play on the other, with no suggestions that is actually to be carried out.
(Sperlinger, 2005)

Observando a janela do meu quarto, apercebi-me que o próprio desenho não se apresenta enquanto silêncio, mas enquanto ruído. Assim, limitei-me a observar as marcas desencadeadas pela diferença de temperatura existente entre o interior e o exterior do quarto, como esboços criados pela minha existência durante o sono. Marcas que revelam o contraste entre um silêncio quente e um silêncio frio e criam uma penumbra entre o interior e o exterior. A coexistência entre o interior e o exterior, ambos partes de um mesmo desenho.
Deste modo, não considero a minha resposta à instrução como uma recusa, mas como uma resposta passiva. Limitei-me a observar.  








II


Instrução: Sara Gonçalves
Realização: Ana Clara Mota


- Escolhe um lugar p/ dar início à acção.
- Partindo desse lugar dá 10 passos em frente e tira uma peça de roupa à tua escolha.
- Espera 2 minutos.
- Partindo desse lugar dá 10 passos em frente e tira outra peça de roupa à tua escolha.
- Espera 2 minutos.
- Partindo desse lugar dá 10 passos em frente e tira outra peça de roupa à tua escolha.
- Espera 2 minutos.
- Partindo desse lugar dá 10 passos p/ trás e veste a última peça de roupa que tiraste.
- Espera 2 minutos.
- Partindo desse lugar dá 10 passos p/ trás e veste a penúltima peça de roupa que tiraste.
- Espera 2 minutos.
- Partindo desse lugar dá 10 passos p/ trás e veste a primeira peça de roupa que tiraste.

A minha instrução apresenta-se na forma de uma folha A5, com uma lista de tarefas nas quais procurei incidir sobre as ideias de corpo, espaço, tempo e repetição. 


Bibliografia 

SPERLINGER, Mike. (2005). “Orders! Conceptual Art’s imperatives“. In SPERLINGER, Mike (ed.). Afterthpught: new writing on conceptual art. London: Rachmaninoff’s, p.8