28.5.18

Desenho como ato de presença | Ana Mota




Uma iniciação ao silêncio
nunca foi escrita
nem poderia ser

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA




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A performance e a escrita estão intimamente ligadas. A presença do corpo, o seu movimento, torna-se visível e identificável através do gesto que é transferido para um plano bidimensional sob a forma de palavras. 

Este desenho, ou seja, esta forma de escrita, é um registo da relação do corpo com o seu suporte. Partindo do canto inferior esquerdo da folha, a escrita prolonga-se até ao limite a que o corpo se pode estender, acrescido do meio riscador. As letras quase inidentificáveis no limite do texto são exemplo da gestualidade do corpo perante sua incapacidade postural, originando uma escrita curvada, registo do movimento ao longo da sua execução.

A relação da escrita com a temporalidade não é só marcada pela repetição da "ausência do silêncio" mas, também, pela própria preparação do suporte - o tempo de realização do desenho é definido pelo período de ensopamento do papel. Após a secagem, é possível para o observador indentificar o tempo real em que a escrita foi executada.