10.3.19

Transferências de Uso / Seminário 1 - Joana R. Sá



O primeiro momento de ação surgiu através de uma prática que fazia continuamente em criança, amassava os papéis e com uma caneta riscava os vincos que o amassar proporcionava ao papel. O amassar e riscar tornam-se tão constantes que o próprio papel amolece e chega a rasgar, é como que uma ação compulsiva. Fiz três desenhos resultantes deste primeiro momento, um que só amaço, outro que amaço e risco por um curto período de tempo e por último um desenho saturado pela ação durante um longo período de tempo.  

Num segundo momento, associei a palavra amassar ao ato de mastigar, pois o ato de amassar está relacionado a termos culinários. A ação torna-se primordial e o suporte torna-se um instrumento no qual o produto vai ser depositado, este surge unicamente como um registo documental. A tinta-da-china foi inserida de forma a concluir a ação, é um encerramento de um ato, a morte da obra, um desfasamento temporal, tão frágil como o corpo que a mastigou e como a ação que a criou.

No último momento, apanhei folhas do jardim e rasguei-as sobre a mesa, retirando-as do seu espaço de normalidade e rasgando-as assim que inseridas no novo espaço. A obra é efémera, acontece naquele espaço de tempo e destrói-se assim que é movida, o registo fotográfico é a única prova do seu acontecimento, cada vez que existe um movimento, surge uma nova composição, uma nova obra. Editei a fotografia do registo e modifiquei-a, surgiu então uma imagem nova que se assemelha a uma fotocópia. Este último momento desencadeou algumas abordagens que podem vir a ser realizadas num novo projeto.