Transferência de Uso
Verbo Lavar
Para um figurinista no universo teatral, lavar o tecido é sinónimo de início. Antes da construção de qualquer personagem, o figurinista dedica tempo a realizar este pequeno ritual que prepara o material e o espaço para iniciar o seu trabalho. É curioso pensarmos que esta ação tão vulgar, que habita a experiência do dia-a-dia, é abordada da mesma forma no processo artístico.
O verbo lavar remete-nos para uma ação de manutenção individual que desenha com pequenos gestos os rituais diários do quotidiano. Nos três exercícios que se seguem convoca-se uma transferência de uso com o sentido de observar a repetição de movimentos, percebendo de que modo estes gestos podem constituir ou formar um desenho das nossas rotinas.
Esta transferência de uso tenta eternizar o tempo e o movimento realizado no início da confeção de um figurino, explorando de forma artística algo que a partida não o é. Assim como lavar os dentes é o início de um dia, lavar a roupa é o início de um processo teatral. Os desenhos que se seguem procuram captar a essência e a poesia da vulgaridade do verbo lavar.
A partir do texto de Allan Kaprow, "Art Wich can't be Art" (1986)
Figura 1. Transferência do movimento de lavar para
desenho.
Lixivia sobre Cartolina (9 elementos) |
Figura 2. Performance de exploração entre duas ações
(lavar e tingir).
Lixívia sobre tecido de algodão. Duração aproximada de 20 minutos. |
Figura 3. Performance Exploração do ato em desenho no
espaço (pintar enquanto se lava).
Sabão e tinta acrílica sobre Mármore. Duração
aproximada de 20 minutos.
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