7.3.19

Transferências de Uso / Seminário 1 - Catarina Casais


Transferência de Uso
Verbo Lavar


 Para um figurinista no universo teatral, lavar o tecido é sinónimo de início. Antes da construção de qualquer personagem, o figurinista dedica tempo a realizar este pequeno ritual que prepara o material e o espaço para iniciar o seu trabalho. É curioso pensarmos que esta ação tão vulgar, que habita a experiência do dia-a-dia, é abordada da mesma forma no processo artístico.
O verbo lavar remete-nos para uma ação de manutenção individual que desenha com pequenos gestos os rituais diários do quotidiano. Nos três exercícios que se seguem convoca-se uma transferência de uso com o sentido de observar a repetição de movimentos, percebendo de que modo estes gestos podem constituir ou formar um desenho das nossas rotinas.
Esta transferência de uso tenta eternizar o tempo e o movimento realizado no início da confeção de um figurino, explorando de forma artística algo que a partida não o é. Assim como lavar os dentes é o início de um dia, lavar a roupa é o início de um processo teatral. Os desenhos que se seguem procuram captar a essência e a poesia da vulgaridade do verbo lavar.

A partir do texto de Allan Kaprow, "Art Wich can't be Art" (1986)

Figura 1. Transferência do movimento de lavar para desenho.
Lixivia sobre Cartolina (9 elementos)


Figura 2. Performance de exploração entre duas ações (lavar e tingir).
Lixívia sobre tecido de algodão. Duração aproximada de 20 minutos.

Figura 3. Performance Exploração do ato em desenho no espaço (pintar enquanto se lava). 
Sabão e tinta acrílica sobre Mármore. Duração aproximada de 20 minutos.