6.5.19

Desenho instrução e performance ( 4 momentos)

Desenho como instrução

URTU

1- acção  perpretada por Fábio Moreira segundo instruções oraculares



desenhar problema que se quer resolver; escolher um local escondido; focar a mente nesse problema e aguardar que passem duas pessoas a conversar; ficar atento ao que dizem pois será a resposta à pergunta; registar; desenhar do lado oposto da folha;  guardar os desenhos escondidos da vista dos outros.

Instrução para estratégia de adivinhação registada de culturas do Crescente Fértil. A concentração mental e o desenho ocultado como agentes criativos e transformadores da realidade.  A crença na presença viva dos Outros, capaz de interagir co-criativamente com a nossa mente como um eco desta instrução que exige uma colaboração entre quem comanda e quem age. Sinto que fomos co-autores desta acção pois apesar do predomínio da palavra, a liberdade de obedecer ou não pertenceu ao Fábio. Aqui pode-se inverter a aparente hierarquia de poderes, que imagina quem instrui como dominador, pois pode-se ocorrer uma inversão de forças pela forma como o outro responde. Gostei de observar o desconforto e capacidade de o superar; a minúcia no pedido corrente de mais informação; e um último momento onde o desenho foi enterrado na terra, fugindo à minha expectativa. 






2- acção realizada a partir de instruções de Fábio Moreira


 


No manual de instruções, consistindo numa caixa com diversa informação sobre a rota do asteróide Sísifo, estava escrito para desenhar uma pedra com o meu peso corporal, procurar carregá-la até ao topo de um edifício, daí atirá-la ao chão e medir o tempo que demorava nesse trajecto.

Sendo que esta instrução comportava um espaço aberto à imaginação, optei por, num pequeno pedaço de papel registar a carvão o relevo de uma pedra existente no jardim de Belas-Artes: um rosto disfarçado entre os paralelos do caminho central. A impressão de um rosto humano captado numa pedra conferiu-lhe a capacidade de projeção necessária para me identificar com o peso daquele desenho. Amassei o papel, dando-lhe a forma ovalada de uma pedra Subi as escadas do pavilhão de escultura e daí deixei tombar a pedra, sendo que demorou 1,5segundos a atingir o chão. Ser agente num espaço não meu, centrado em questões alheias à minha sensibilidade e pesquisa artística, acabou por permear uma sensação de estranheza que contudo foi absorvida e entendida com a curiosidade capaz de compreender o sentido dentro do absurdo da instrução. Esta instrução está intimamente conectada com o trabalho de estúdio de Fábio Moreira, que tenho acompanhado.





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Desenho como instrução ( semana de 29 de Abril a 3 de Maio)

1- Pintar uma cadeira de branco (instrução para Mariana Barrote)




A instrução de Fábio Moreira consistiu em sugerir que me sentasse numa cadeira e, à medida que a fosse pintando de branco, terminar expulsa do seu espaço, pois a tinta fresca impediria a função da mesma de me servir de assento. A acção foi compreendida de forma a ser transposta para a documentação, e aí ser efectivamente realizada. Transferi o acto performativo para a própria documentação, ao mimetizar o acto de pintar, teatralizando para a câmara. Efectuei num programa de computador a tintura da cadeira. Tornou-se irrelevante se a acção foi efectivamente realizada ou não: a documentação afirma-o, mas também não oculta a sua falácia. A imagem documentada possui todas as indicações de ser uma adulteração da imagem que permite pensar que a cadeira foi pintada de branco. O aspecto rude dessa sobreposição com a simplicidade da fotografia a preto e branco, elegida como mais apta à documentação, torna todo o acto satírico. A intenção que desvendo na instrução do Fábio parte desse absurdo que é agir para que o objecto se desvincule da sua própria natureza - romper com o sentido da sua presença.  Neguei a instrução na sua forma mais literal para a subverter sem contudo, a transgredir.






2- Mensagens captadoras de memória (instrução para Fábio Moreira)




Instrução  entregue dia 26 de Maio

Um papel rasgado com um nome e um número de telefone. Promessas de intimidade. Potencialidade de contacto posterior, mas que deixa sempre nas mãos de quem recebe o papel a liberdade de ligar ou não. 
 



Optou-se por enviar por mensagem instruções a ser realizadas no momento da sua leitura. Para tal, foi sugerido ao Fábio que permanecesse com papel e materiais riscadores durante a semana. Estas instruções concentram-se na realização de desenhos de memória, partindo de memórias, de intimidade de momentos, criando no seu total o que imagino o retrato de uma pessoa. Memórias que terão de ser rememoradas e visualizadas em desenho, procurando tanto uma proximidade a elementos íntimos e semelhantes, como nuvens, almofadas, mãos, mas também elementos como desenhar no escuro, remetendo para o processo de desenhar como sempre um exercício de memória, e inextrincável à cegueira. No final do exercício informar que as instruções vivem da memória. O desenhar como um acto de paixão, pelo trazer do toque a memória de mãos, de rostos amados, de violências perpretadas; de sensibilidades corporais. Foi dado a ver o conjunto de desenhos durante a aula de dia 3 de Maio, sendo que fiquei satisfeita com a quase total obediência, havendo contudo momentos  disruptivos interessantes.