Se podemos considerar o desenho como um acumulado de dados que informam algo da presença de quem desenhou, metadados talvez possam informar algo sobre esta informação primeira. Quanto tempo durou o desenho? Que traços foram feitos antes e quais depois? Onde começaram e onde terminaram estes traços? Quais os momentos de maior intensidade da ação? Metadados são isto: dados acerca de dados.
Tenho buscado adicionar estas camadas ao desenho, parâmetros normalmente
ocultos relacionados ao ato de desenhar. Estes dados, tornados visíveis, talvez
sejam também indicadores, ainda que indiretos, da presença do corpo de
quem desenhou. E não se trata de uma fórmula do tipo: mais desenho (mais
traços) = mais presença. Ou talvez sim, mas não só, por que estes
metadados adicionados são decididamente processuais e assim sendo
invocam muito diretamente a ação. Evidenciam algumas verticalidades,
enfim, seja o tempo, seja a espessura.
Foi com isto em mente que testei convocar outros corpos.
Procuro eu mesmo adicionar alguma verticalidade ao desenho, uma verticalidade mais poética que passa por alguma autonomia do traço, buscando me tornar ausente do processo. Por isso apostei que não ofenderia meus colegas pedindo que deixassem de lado suas individualidades para comporem uma espécie de máquina humana, que, a partir de instruções ou programas se quisermos, de alguma forma refletiria os movimentos de meu corpo, traduzindo-os em novos layers. Enfim, todos juntos, um dispositivo provocador de verticalidades. Por isto, talvez, em vez de invocar um corpo presente, este desenho tenha, por fim, acabado por produzir um coletivo… ausente.
Agradecido aos metadatadores:
Joana Bueno, Maira Coelho, Paulo Almeida, Rava Midlej, Rita Pinto e Rosa Silva
E pelas imagens:
Ana Mota e João Ferreira